O dia da Inspeção
Antigamente, a ida à inspeção militar caracterizava-se por ser um dia de grande festividade para os moçoilos do concelho.
Esta história, contada pelo tio Américo Correia, aconteceu na primeira metade do século XX.
Ora, na época, era usual que os jovens se concentrassem em cada terra e se dirigissem a pé para a sede do concelho. Juntos entoavam cantigas e eram acompanhados pelos sons das concertinas. Por todas as terras por onde passassem, havia sempre uma paragem na taberna e uns vivas, bem regados com o bom vinho da região, eram proferidos a saudar as respetivas freguesias.
Certo ano, os rapazes das terras de forninhos, Dornelas e Cortiçada já se encontravam a celebrar na taberna de Coruche quando um deles, certamente com o vinho a falar, começou a gritar:
- Viva Forninhos!
- Viva! - respondiam os outros.
- Viva Dornelas!
- Viva!
- Viva Cortiçada!
- Viva!
- Morra Coruche!
Nesse momento, a taberna ficou silenciosa e, passados alguns minutos, ouviu-se o sino tocar. Um dos rapazes, mal as palavras macabras foram proferidas, desatou a correr até à igreja para ajuntar o povo. E este respondeu com prontidão.
Num ápice, começou uma violenta batalha entre a povoação que se sentiu insultada e os jovens das freguesias vizinhas que acabaram por fugir, não sem antes levarem uns valentes açoites.
Durante anos, a mocidade das referidas freguesias alterou o seu percurso, seguindo por Valverde. Mas a camaradagem acabou por levar a melhor e a tradição voltou ao que era, com os moçoilos a passarem novamente por Coruche, primeiro timidamente e em silêncio, depois já em festa com os realejos e as concertinas a marcarem o ritmo.