A lenda do São Torcato da Sapateira
No início do século XX, quando a quinta da Sapateira ainda era bem povoada, mas na capela já não se praticava o culto e esta já mostrava sinais de abandono, certa mulher, de nome Dialina, passando em frente e vendo a porta escancarada, pensou que o local se encontrava de feição para recolher os seus animais.
Se bem o pensou, melhor o fez e, nesse mesmo dia, dirigiu-se ao senhorio das terras e pediu-lhe a tão desejada autorização.
O senhor, não vendo qualquer impedimento, respondeu-lhe:
-Por mim faz o que quiseres, mas antes não te esqueças de retirar o São Torcato.
A mulher, satisfeita, acatou estas palavras e regressou à capela, de onde retirou o Santo.
Como ela era muito poupada, a necessidade ensina-nos a sê-lo, olhou para o Santo e achou que a sua madeira podia ser aproveitada para nessa noite aquecer a lareira. Pegou no machado e rachou-o em cavacas, que logo tratou de pôr a arder.
Como já eram horas de ceia, decidiu fazer umas papas de ralão para acomodar o seu estômago. Mas, enquanto cozia as papas, estas foram ganhando uma cor azulada e um cheiro horrível.
A mulher, furiosa com o desperdício, foi deitar as papas aos porcos. De manhã, quando acordou, estranhou o silêncio que reinava. Levantou- se e foi ver os animais.
Qual não é o seu espanto quando se depara com os porcos todos mortos! O povo, mal tomou conhecimento da ocorrência, tratou logo de dizer que era castigo por ela ter queimado o Santo.
A verdade é que, fosse por doença ou intoxicação, fosse por interferência do São Torcato, a capela nunca fui ocupada.